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Problemas de gênero e as TICs

Publicado 24 de maio de 2021 por Agnes Karoline

As ciências sociais já se debruçaram muito sobre os estudos da comunicação e, nesse contexto, a tecnologia é colocada ideologicamente como neutra. Mas a comunicação nunca é neutra e tampouco imparcial. A ação humana é dotada de interesses situados por classe, gênero, etnia e orientação sexual. Ou seja, a linguagem da forma tal como a conhecemos também faz parte de um projeto sócio-histórico. Neste sentido, é que nós falamos português e não tupi Brasil. A comunicação é sempre um ato sociocultural, mas para aprofundarmos o assunto, seria necessário recorrer a Habermas, Nancy Fraser, Seyla Benhabib, entre outros estudiosos.

Nossa língua foi construída com base na história colonial, patriarcal e estão impregnados nela modelos de opressões sociais e políticas. Por isso, precisamos entender a importância da comunicação dentro do contexto histórico da construção linguística de um país. Sabemos que as grandes empresas de comunicação no Brasil, que monopolizam grande parte do espectro, são controladas por seis ou sete famílias brasileiras. É uma centralização de poder muito grande. 

Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2012 mostra que, durante nove anos, houve um aumento expressivo de inclusão digital: em 2003, o acesso era de 8% de pessoas com acesso à internet em casa e, em 2012, passou para 33%. O relatório aponta que a distribuição de forma socioespacial é muito desigual, tendo em vista que a cidade grande possui mais pontos de acesso. Porém, não podemos considerar o acesso à internet como o único medidor de democratização dos meios de comunicação. 

No Mapa da Inclusão Digital no Brasil, a Região Sudeste conta com 11.067 pontos, sendo 5.033 somente na cidade de São Paulo, enquanto na Região Norte há apenas 3.122 pontos. No contexto América, a situação é bem pior, visto que os Estados Unidos detém o poder da tecnologia. Os caminhos que vão e vêm da América Latina passam pelos EUA, então essa relação de vigilância e controle da internet está colocada como um problema de infraestrutura.

Além de todo esse contexto das classes dominantes da tecnologia, podemos observar diversos desses aparatos sendo utilizados para agressão contra mulheres defensoras dos direitos humanos. Conforme a Agenda 2030, a igualdade de gênero é um dos 5 objetivos para o desenvolvimento sustentável global: “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” é a base necessária para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável. Dentre as metas para alcançar os objetivos destacados na Agenda, destacamos a importância do uso da tecnologia da informação e da comunicação para tal objetivo.

Segundo a pesquisadora Iara Beleli, o discurso de ódio contra o feminismo nas redes sociais vem crescendo e, agora, conta com o aparato estatal.

A conjuntura do Brasil acompanha violações sistemáticas aos direitos das mulheres e meninas, o que configura um retrocesso em grande parte das metas ligadas aos objetivos da Agenda 2030. Ou seja, as ações da atual gestão federal do Brasil estão na contramão da Agenda.

Diante desse cenário, continuamos vendo casos infelizes, como o da menina de 10 anos que fora estuprada, engravidou e extremistas de direita tentaram proibir o aborto legal; bem como o caso Mariana Ferrer, onde o judiciário trata com todo descaso sua denúncia.

A comunicação e o uso da tecnologia da informação no terceiro setor, para o movimento feminista e para todos os atores interessados no desenvolvimento sustentável, é importantíssima.

Desde 1995, no Plano de Ação de Pequim, “Mulheres e Mídia” é uma das 12 áreas de preocupação que reapareceu na 62ª Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW 62) como um problema central para desempenhar a conquista na igualdade de gênero. Por conta disso, um projeto que vise formular um suporte técnico e popular auxiliaria as redes de mulheres e do movimento feminista a se articularem onde a condição técnica ainda não é possível. Para isso, é necessária a compreensão da realidade socioespacial dos territórios em que as mulheres estão, visto que existem distinções entre elas de vida, etnia, cor, regionalidade, condição social e econômica.

A Saúde das Mulheres Ativistas:
Um Compromisso Coletivo